Animais que perderam a visão precisam de alguns cuidados a mais para que tenham uma ótima qualidade de vida e dê muito afeto aos seus tutores
O sentido mais apurado do seu cão definitivamente é o faro, mas você já parou para pensar que essa não a única forma como o seu amigo de quatro patas percebe o mundo? É por isso que a cegueira em cachorros merece a sua atenção.
Entendendo a visão dos cães
A visão canina é um assunto muito curioso. Afinal, os cães só enxergam em perto e branco? Eles conseguem enxergar 360°? E no escuro? E como é a vida de um cão cego?
De fato, os cachorros têm uma visão completamente diferente da visão humana. Eles enxergam em uma escala de cores que varia entre o amarelo e o azul e, por terem os olhos posicionados em uma região mais lateral que os humanos, eles podem sim ter uma visão periférica muito mais ampla.
Além disso, eles só precisam de ¼ da luz que nós precisamos para enxergar e por isso, de certa forma, ele pode ver no escuro.
Agora, imagine se todas essas características da visão do seu melhor amigo acabassem de repente. Ele com certeza iria perceber a diferença e passaria a usar ainda mais o olfato e a audição no dia a dia.
Graças aos sentidos apurados de um cão, os animais cegos podem se adaptar às mudanças, tendo uma excelente qualidade de vida e vivendo alegres por muito tempo.
O que causa a cegueira?
A cegueira em cães pode ser repentina ou gradativa, reversível ou permanente. Tudo vai depender da causa do problema, já que, na maioria das vezes, a cegueira é apenas um dos sintomas de alguma outra doença.
As doenças oculares não são as únicas por deixar o seu pet cego. Problemas neurológicos, doenças sistêmicas e agentes externos também podem fazer isso com seu bichinho de estimação:
Catarata
A catarata deixa o olho do peludo com um aspecto opaco e esbranquiçado, o que bloqueia a passagem de luz e impede a visão.
Trata-se se um rompimento no cristalino (também chamado de lente) do olho, que libera proteínas que são combatidas pelo sistema de defesa do corpo, além de aumentar a pressão ocular e de causar mudanças na lente.
Em alguns casos, esse processo pode acontecer de forma espontânea devido à rigidez natural da lente, o que afeta principalmente os animais idosos. Já os filhotes podem herdar a doença dos pais, nascendo com catarata congênita.
Glaucoma
A falta de drenagem do excesso de líquido nas zonas internas do olho causa o glaucoma.
Na zona intraocular, é secretada continuamente um fluido necessário para a nitidez da visão. Porém, se a secreção ocorre de forma excessiva ou se não há tempo suficiente para eliminá-la, o aumento da pressão pode causar mudanças no nervo ótico e na retina – o que, em seu limite, pode ocasionar a cegueira no pet.
A doença pode ser aguda ou crônica, dependendo de sua origem. Cães diabéticos, por exemplo, ainda podem reverter a cegueira, mas aqueles que desenvolvem o glaucoma por motivos hereditários provavelmente ficarão cegos.
Uveíte
Uveíte é a inflamação da úvea, uma estrutura localizada no interior do olho que fornece sangue à córnea. Dependendo da posição dessa inflamação – íris, corpo ciliar ou coroide –, o problema é classificado como anterior ou posterior.
Há muitas causas para uveíte que vão de lesões a condições metabólicas como diabetes. A doença pode ser tratada, com resultado positivo se o tratamento começar o quanto antes. Em alguns casos, o pet precisa de uma cirurgia para reparar a córnea danificada ou remover o corpo estranho do olho.
O principal perigo é que, se a doença não for descoberta logo no início, pode evoluir rapidamente para um glaucoma e provocar a cegueira em cachorros.
Ceratite
Conhecida como úlcera da córnea, a ceratite é uma inflamação na córnea causada por infecções, vasos sanguíneos e traumas, por exemplo. Pode ser um sintoma de cinomose ou de hepatite em cães.
Raças de narizes curtos e olhos proeminentes, como Pug, Pequinês, Bulldog, Shih Tzu e Boxer têm especial tendência a sofrer com a ceratite.
A doença pode ser tratada e, em muitos casos, reversível. Úlceras superficiais tendem a sarar em apenas alguns dias, mas as mais profundas podem causar o rompimento do líquido no interior do olho – o glaucoma – e a posterior cegueira no animal.
Atrofia Progressiva de Retina (PRA)
Atrofia Progressiva de Retina (PRA) ou síndrome da cegueira súbita é uma doença oftalmológica degenerativa que não tem cura e que tende a levar o seu amigo à cegueira em ambos os olhos.
A doença é hereditária, sendo passada de pais para filhotes. No entanto, nem todos os cães que possuem os genes manifestam a PRA. É por isso que os animais portadores dos genes devem ser castrados e não cruzar com outros cães. Em raros casos, a doença é causada por uma deformidade na retina.
A PRA costuma atingir animais que estão na meia idade e os mais velhos. Raças como Poodle, Labrador, Schnauzer, Golden Retriever e Border Collie são as mais suscetíveis a essa doença.
Linfoma
Linfoma ou linfossarcoma é um tumor maligno que atinge o sistema linfático do seu pet. Existem mais de 30 tipos diferentes dessa doença, que ainda tem as causas desconhecidas pela medicina veterinária.
O primeiro sintoma da doença é o aumento em alguns pares de linfonodos, especialmente os que ficam abaixo da mandíbula do animal. Outros sinais mais perceptíveis incluem febre, fraqueza, perda de peso, diarreia e, em alguns casos, a cegueira.
Embora a doença possa ser tratada com quimioterapia e medicamentos, o tratamento é paliativo e não irá recuperar a visão nem a saúde do animal. A maioria dos cães morrer em até um ou dois anos após o diagnóstico.
Doenças neurológicas
Problemas no sistema nervoso dos animais podem surgir devido a questões genéticas, infecciosas ou como consequência de outras doenças. Algumas delas podem ser curadas, outras não.
Entre as doenças neurológicas nos cãezinhos, estão a epilepsia (convulsões), discopatias (problemas no disco interverterbral), espondilose (popularmente conhecida como “bico de papagaio”), AVC (conhecido como derrame” e cinomose, que podem levar à cegueira em cachorros.
Cães de porte pequeno são os mais propensos a manifestar uma dessas doenças, embora a cinomose possa afetar qualquer pet.
Enucleção
A enucleação é um procedimento cirúrgico que remove o globo ocular do cão. Se a remoção for necessária em ambos os olhos, o pet ficará completamente cego.
Ela é indicada para casos de lacerações, proptose (quando o olho é forçado para fora da cavidade ocular), lesões causadas por garras e mordidas de outros animais, deformidades congênitas, queimaduras químicas e alguns casos de câncer – problemas de saúde que podem ou não ter ocasionado a cegueira.
Na cirurgia, o olho e eventualmente os tecidos oculares são removidos e as pálpebras são suturadas uma a outra. A região fica com um aspecto como se o animal estivesse simplesmente de olhos fechados ou dormindo.
Maus tratos
Animais que são maltratados e sofrem com agressões, punições severas e tortura podem ficar com sequelas nos olhos, inclusivo a cegueira, dependendo do tipo de trauma sofrido. Esse é apenas um dos inúmeros motivos pelos quais jamais se deve machucar um animal.
Como saber se o meu cão está ficando cego?
Para diagnosticar a cegueira em cachorros, você deve levar o seu pet a uma clínica veterinário, onde o especialista irá confirmar ou não a cegueira e identificar a sua causa, além de buscar a melhor solução para resolver esse e outros problemas – se for possível.
Porém, na sua casa, você já poderá reconhecer alguns sinais de que o seu animal de estimação está começando a perder a visão ou de que já está totalmente cego, já que a cegueira pode sim acontecer de um dia para o outro.
A principal característica é a mudança na aparência do olho afetado. Cães cegos ficam com o olho esbranquiçado e opaco. Eles também apresentam mais secreção e coceira ocular, piscam muito, passam mais tempo com o olho fechado e têm vermelhidão nos olhos.
Nos animais que ficam cegos gradativamente, é possível perceber que suas pupilas ficam cada vez mais dilatadas no escuro, esforçando-se para enxergar em ambientes de baixa luminosidade, pois essa é a região que “brilha” quando os pets estão em um ambiente com pouca luz.
Outro sinal claro de que o seu pet está com a visão comprometida é a desorientação espacial.
Os animais passam a ter receio de caminhar pela casa, batem a cabeça nos móveis e nas paredes, fazem movimentos mais lentos, erram os saltos ou aterrisagens que antes eram feitos com facilidade, evitam ir a locais como quintal e jardim e têm dificuldade para subir e descer escadas.
Uma boa forma de “testar” a visão do seu cão é observar como ele se locomove em um ambiente escuro. Se ele esbarra nas paredes, anda mais devagar e cheira tudo com o focinho, ele pode estar desorientado devido à cegueira.
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Como cuidar de um cão cego?
Felizmente, os cachorros são extremamente adaptáveis e isso quer dizer que, embora cego, o seu pet poderá viver feliz por muitos anos.
Na maioria das vezes é você quem mais se preocupa com a cegueira em cachorros. Como ele vai andar pela casa? Será que vai fazer as necessidades no lugar certo? E os passeios, como ficarão? E se o pet se machucar?
Na verdade, os animais cegos continuam muito independentes e não necessitam de ajuda o tempo todo. Os cães que perdem gradualmente a visão têm mais facilidade de adaptação, enquanto aqueles que ficam cegos repentinamente podem sofrer um pouco até se acostumarem com esse desafio.
O que eles precisam é de cuidados especiais para que a adaptação à cegueira seja mais fácil, assim, em pouco tempo, o seu pet vai recuperar a qualidade de vida.
Saiba como auxiliar o seu animal de estimação nesse momento complicado:
Não mude os móveis de lugar
Procure deixar os seus móveis sempre no mesmo lugar, pois será mais fácil para um cão cego decorar os caminhos dentro de casa e se locomover normalmente.
Fazer mudanças pode fazer com que o pet bata a cabeça, o que o deixará machucado, assustado e desorientado.
Coloque barreiras em locais perigosos
Escadas, portões que dão para a rua e que ficam sempre abertos, ralos sem tampa e muitos outros obstáculos perigosos para um cachorro cego devem ser evitados. Por isso, coloque algumas barreiras – mesmo que improvisadas, como um papelão – para que o seu pet não se arrisque.
Deixe os recipientes de água e comida no mesmo local
Embora estimular um cão que sofre de cegueira seja fundamental, é melhor não fazer isso mudando os recipientes que recebem água e comida de local.
É muito importante que o peludo saiba de primeira onde encontrá-los para poder se alimentar e hidratar, além de que, esses cães precisam ter uma rotina para saber o que esperar a seguir.
Use uma guia curta durante os passeios
A cegueira em cachorros não deve impedir que o animal faça exercícios, explore novos ambientes e socialize com outros cães. Por isso, continue a passear regulamente com o seu pet. A única mudança que você precisará fazer é usar uma guia curta para que ele se sinta mais seguro perto de você.
Além disso, mesmo se o seu cão estiver acostumado a andar sem guia nas ruas, evite fazer isso se ele estiver cego, a não ser que vocês estejam em um local cercado e sem muito barulho, para que você possa orientá-lo com o som da sua voz.
Estimule outros sentidos do pet
Conforme o animal perde a visão, outros sentidos, como o olfato e a audição, ficam ainda mais potentes. É essencial estimular esses sentidos para que o animal possa conviver melhor com a cegueira.
Se o seu cachorro convive com outros pets, coloque sinos em suas coleiras. Isso vai alertar o cachorro cego da presença de seus companheiros, evitando que ele seja surpreendido e se sinta ameaçado.
Além disso, procure conversar com o seu cão, pois essa é uma forma que ele terá de saber que você está a certa distância, fazendo com que ele se sinta menos solitário e ansioso e muito mais confiante.
Estimule também o olfato do pet. Para isso, coloque petiscos em alguns brinquedos e deixe que ele os localize pela casa. Porém, não se esqueça de deixar os brinquedos em locais seguros e de fácil alcance.
Você pode mudar a ração do seu amigo de vez em quando ou acrescentar um sabor diferente, como sachês úmidos, arroz ou frutas para que ele possa usar o faro para identificar o novo alimento e o paladar para experimentar a novidade.
Alerte as outras pessoas
Cães que não enxergam podem se sentir intimidados na presença de estranhos. Portanto, esse tipo de integração deve ser feito com muito cuidado para que o pet não fique estressado, amedrontado ou agressivo.
Procure avisar outras pessoas de que o seu pet é cego ou então coloque uma roupinha ou um lenço com a frase “Cão cego” para facilitar a identificação e alertar os desconhecidos para a interação correta com o pet.
O ideal é jamais abordar o animal por trás, pois isso pode deixá-lo apavorado e ele vai reagir instintivamente. Instrua as pessoas a se aproximarem devagar do cachorro pela frente e a estender a mão para ele cheirar antes de iniciar qualquer contato físico – inclusive carinhos.
Use uma coleira especial para cães cegos
Já está disponível no mercado uma coleira muito peculiar adequada para os cães que perderam a visão. É uma espécie de anel suspenso, que se funde com um colete que o pet deve usar para suportá-la no local correto: em volta da cabeça.
Dessa forma, ele serve como um protetor da cabeça do seu cachorro, impedindo batidas e machucados, pois impõe um limite entre uma barreira, como uma parede ou o sofá, e o seu pet, mas, ao mesmo tempo, permite que ele excute todos os movimentos.
Se o seu pet se adaptar ao produto, pode ser uma ótima solução para que ele recobre a confiança necessária para se locomover livremente. Porém, se ele ficar paralisado ou tentando remover o item mesmo após algum tempo de uso, é melhor não usar e evitar estresse no seu animal de estimação.
Tenha outro cachorro
A companhia de outros animais de estimação é muito benéfica ao pet que não enxerga, pois eles estabelecem uma relação muito especial com o animal cego. Eles podem atuar como um verdadeiro guia, sendo os olhos do cachorro cego, ajudando o companheiro no dia a dia e protegendo-o dos perigos.
Como evitar que o meu cão fique cego?
Embora muitos dos problemas que causam cegueira em cachorros sejam hereditários ou ocasionados devido à idade avançada do pet, é possível prevenir que essa situação ocorra com o seu pet.
Os cães naturalmente possuem um pequeno acúmulo de secreção, que formam as famosas remelas. Essa secreção é responsável pela limpeza ocular e dos dutos lacrimais, protegendo contra problemas nos olhos, como ressecamento, machucados e infecções.
No entanto, o acúmulo dessas remelas pode atrapalhar essas funções de defesa e, como os animais não conseguem removê-las sozinhos, a limpeza dos olhos deve ser feita por você.
Cada raça de cão apresenta uma necessidade em relação a frequência dessa limpeza. Maltês, Lhasa Apso e Poodle tendem a precisar de mais cuidados, especialmente se tiverem pelos brancos, que podem manchar a face e deixar a região abaixo com aspecto de olheiras.
Para fazer a limpeza, basta usar um pedaço de algodão ou gaze com soro fisiológico ou produtos pet específicos para isso e esfregar delicadamente na região periocular pelo menos uma vez ao dia.
Além da limpeza, você deve levar o seu pet a uma clínica veterinária para uma consulta com um oftalmologista veterinário, que periodicamente avaliará a saúde ocular do seu cão através de exames oftalmológicos.
Animais que têm pelos longos na região da face, como Yorkshire, Lhasa Apso e Afgan Hound, precisam deixá-los longe dos olhos. Para isso, prenda os “cabelos” dos pets com lacinhos, sem apertar muito, e quando crescer demais, providencie um corte em uma pet shop especializada.
O atrito frequente faz com que os olhos do peludo fiquem secos e irritados, além de haver risco de perfuração feito por pequenas impurezas presentes nos pelos dos cães.
Também não é recomendado que o animal tome vento forte diretamente nos olhos, como muitas vezes ocorre quando o pet anda de carro e fica com a face para fora da janela aproveitando a paisagem.
Esse hábito pode fazer com que partículas de sujeiras atinjam o olho do pet e causem incômodos, que podem se tornar inflamações. O ideal é sempre viajar com o pet devidamente posicionado em um cinto de segurança ou em uma caixa transportadora para animais de estimação, conforme seu peso e altura.
Por último, jamais administre remédios – inclusive colírios – nos animais sem a recomendação e supervisão de um veterinário. O mau uso desses medicamentos pode ocasionar ou agravar a cegueira em cachorros
Cães cegos também amam
Apesar das dificuldades encontradas, os animais que perderam a visão continuam cheios de afeto para dar e para receber em troca, afinal, todos os cachorros são bichos muito sociáveis, dóceis e amáveis.
Infelizmente, é muito comum que, devido a despesas e ao preconceito, os cães cegos sejam abandonados pelas suas famílias ou que sejam os últimos a serem adotados nos abrigos de animais, quando tudo o que eles mais precisam é de um novo olhar de seus tutores.
Lembre-se que os cachorros são adaptáveis até mesmo às condições mais desfavoráveis. Se você tiver a oportunidade, não deixe de acolher um animal cego, pois ele fará com que você veja a vida com outros olhos.
Não podemos deixar de ressaltar que os diagnósticos e tratamentos devem ser feitos por profissionais especializados, na Clínica Veterinária Vet Quality o atendimento é 24 horas, com oftalmologista veterinário para cuidar do seu amigo com todo o carinho.
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